quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Charles Bukowski

Fui até o banheiro, fiz um chumaço de papel higiênico e tentei estancar o sangramento. Tirei o papel das minhas costas e dei uma olhada. Estava empapado. Peguei mais papel e segurei ali por algum tempo. Então peguei o iodo. Passava o remédio nas costas, tentando alcançar o local do machucado. Era difícil. Finalmente consegui. De qualquer modo, quem já ouviu falar de costas infeccionadas? Ou o cara vive ou o cara morre. As costas eram uma coisa que os idiotas nunca pensavam em amputar.

Caminhei de volta para o quarto e me deitei na cama, puxando a coberta até o pescoço. Fiquei olhando para o teto enquanto falava com meus botões.

Tudo bem, Deus, digamos que Você esteja mesmo aí. Foi você que me colocou nesta. Você queria me testar. E que tal se eu O testasse? E que tal se eu dissesse que você não está aí? Você já me expôs ao teste supremo me dando esses pais e estas espinhas. Acho que passei no Seu teste. Sou mais durão do que Você. Se Você tivesse coragem de descer aqui, agora, eu cuspiria na Sua cara, se é que Você tem cara. E Você caga? O padre nunca respondeu a essa questão. Ele nos disse para não duvidarmos. Duvidar do quê? Acho que você já passou dos limites comigo, por isso, desafio-O a descer até aqui para que eu possa aplicar meu teste em Você!

Esperei. Nada. Esperei por Deus. Esperei infinitamente. Acho que peguei no sono.

Nunca dormia de costas. Mas quando acordei estava nessa posição e fiquei surpreso. Minhas pernas estavam dobradas e meus joelhos erguidos, dando às cobertas um aspecto de montanha. E quando olhei para essa montanha de cobertor, vi dois olhos me encarando. Eram olhos sombrios, negros, vazios… olhando para mim, encobertos por um capuz, um capuz negro e pontudo, como os usados pela Ku-Klux-Klan. Miravam-me fixamente, aqueles olhos negros e vazios, e não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava realmente apavorado. É Deus, pensei, mas Deus não podia ter aquela aparência.
Eu não podia parar de olhar. Não conseguia me mover. Aquilo simplesmente ficou me olhando a partir do monte que meus joelhos formavam no cobertor. Eu queria sair dali. Queria que aquilo desaparecesse. Seu aspecto era ameaçador e sombrio e eu podia sentir a sua força.



Pareceu ficar ali parado durante horas, só me encarando.

Então, se foi…

Fiquei sentado pensando no que tinha acontecido.

Não conseguia acreditar que aquilo pudesse ser Deus. Vestido daquela maneira.

Devia ser um truque vagabundo. Havia sido uma ilusão, obviamente.

Fiquei pensando no assunto por uns dez ou quinze minutos, então me ergui e fui pegar a pequena caixa marrom que minha avó me dera muitos anos atrás. Dentro dela havia pequenos rolos de papel com citações da Bíblia. Cada pequeno rolo ficava dentre de um compartimento próprio. Era esperado que o sujeito fizesse uma pergunta e então puxasse um dos rolinhos que supostamente conteria a resposta desejada àquela questão. Eu já tinha tentado utilizar a caixinha anteriormente, e não me tinha sido de nenhuma utilidade. Agora, tentei novamente. Perguntei à caixa marrom:

- Qual o significado do que aconteceu? O que eram aqueles olhos?

Puxei um dos papeizinhos e o desenrolei. Era muito pequeno e difícil de manusear. Ao conseguir desenrolá-lo, li:

DEUS O ABANDONOU.

Enrolei o papelzinho e o pus de volta em seu compartimento na caixa marrom. Não podia acreditar naquilo. Voltei para cama e fiquei pensando. Era simples demais, cru demais. Não dava para acreditar. Pensei em me masturbar para voltar à realidade. Continuava sem poder acreditar. Fiquei de pé e comecei a desenrolar todos os papeizinhos da caixa marrom. Procurava por aquele que dizia DEUS O ABANDONOU. Desenrolei todos. Nenhum deles trazia aquela mensagem. Li um por um e nenhum dizia aquilo. Enrolei todos novamente e os coloquei em seus compartimentos dentro da pequena caixa marrom.

 

 Trecho da obra Misto Quente

Porra. Começo mesmo evocando a porra.

Quem nunca gozou aqui. Quem nunca gozou a uma hora dessas? É fácil ficar sem ter um gozo? Então porra, enxerga que nas regras existem exceções. "Estou bêbado" e não sei ao certo o que dizer, mas sei que tenho muito a dizer.

E, que responsabilidade, "precisa" sere mantida caso queiram que o rebanho continue. Será que eu PRECISO continuar ali?

Estou bêbado eu, ou está bêbado tu sem teres sequer sentido o cheiro

da bebida

pela quadragésima vêz?



Esperam de seus discípulos que sejam como ti (o grande). Eu digo que fodam-se. Sim fodam-se! Fodam-se mais uma vez! e serão felizes. Fodendo, ao menos dois corpos estão a salvos da intriga da discussão verbal - e que discutam com tapas - pelo menos no início daquele coito. Eu não tô nem aí pra os seus gostos pessoais. Comecem suas guerras, mas nao me citem. Comecem a expor suas invejas, mas não me citem!

Minha palavra nunca será a palavra que dizem ser a verdadeira.

domingo, 13 de janeiro de 2013


Eu é eu
Você é eu como queiramos
Nós é eu em harmonia
Nós é eu em guerra
Tu, faz o que queiras
Respeito é enxergar
Consideração é ver
Liberdade é simples: deixa ir
Prisão é embaraço 
E se enrola em fios
De maldade nascente
Nós como irmãos,
Nós
.