terça-feira, 20 de maio de 2014

Resplandeça o sombrio universo da maconha

Sem desobstruir o escape por onde devem passar as luzes do saber, bloqueado pelo preconceito a novas possibilidades, é preciso ser observador para os fatos mesquinhos do governo o qual somos submetidos há décadas. Propagandas deturpam ou encobrem as verdadeiras qualidades ignoradas por quem deveria defendê-las!

É, como se diz, mantenha no escuro a sabedoria e acalme assim a fera em estado latente, o povo. A maconha é matéria denegrida há mais de meio século pela cultura popular, mantida pela desinformação: uma massa recheada de pensamentos condicionados a enxergar lixo onde há poder.

O sistema é de repressão baseado na violência, e as autoridades parecem ignorar o desenvolvimento científico, a cultura e o clamor das minorias. Sem contar na também aparente paralisia de projetos de lei de natureza progressista quando o assunto é a regulamentação de psicotrópicos, em pauta a cannabis.

Um viés da sociedade, da manutenção de normas ditas éticas, direciona o comportamento do povo e tenta fechar as portas para o desenvolvimento de novas ideias, o que é bom. Mas uma parcela do povo está cansada de mentiras acerca dessa ética de inversão de valores, onde a desmoralização das convicções culturais ou mesmo as comprovadas cientificamente são tocadas como bandeiras de luta pela maioria, conservadas e atreladas por elos de ingenuidade. Nem todos somos assim. Por isso viva o movimento pensante articulado!

No Brasil, a erva passou a ser estigmatizada pelas elites influenciadas por correntes políticas estrangeiras no intuito de aliená-la de cores e culturas - Que não seja assim!

Se esqueceram de que uma coisa é inalienável: a raça e a natureza. A maconha foi afastada das praças, mas não da terra; teve a pesquisa dificultada, mas não foi possível pôr fim as suas raízes, nem à curiosidade da pesquisa; foram rechaçados os cultos que a utilizavam como um elo de ligação entre o humano e o divino ( É o que pensam e pensarão)...

A verdade é que a planta foi encastelada, puseram-na na mais alta torre e fizeram o povo virar as costas para os benefícios que dela provém, inclusive sociais. Afinal pode ser ela, parte da cura de problemas relacionados à saúde, ao trabalho, ao emprego e geração de renda, à segurança pública, à economia e principalmente à educação.

Remédio natural, tal como a folha da amoreira, considerada sagrada inclusive por etnias e correntes religiosas brasileiras e afro-brasileiras, a maconha é tida como porta de saída para outras drogas e problemas sociais - não se negue o conhecimento desenvolvido na faculdade de medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que em consonância com o mundo mantém a pesquisa e o diálogo acerca do potencial uso medicinal da cannabis atualizados no país. Leia sobre o assunto, clique aqui.

A respeito, é na Universidade que o cara aprende a desenvolver um diálogo embasado, aprende a ter credibilidade. São as mentes instruídas que têm o poder de mudar o comportamento de uma família, de um bairro, de uma nação. Foi o desenvolvimento universitário que diminuiu e ainda diminui as distâncias tecnológicas, científicas, sócio-culturais, através da pesquisa, extensão, debates, estudos em prol do desenvolvimento.

Toda a sociedade ganha com diálogos desenvolvidos a partir de fundamentos. Principalmente as famílias, a juventude e as comunidades pouco assistidas (para não dizer ignoradas) pelo poder público. Estão estes na mira, quando não do comando armado ilegal dos traficantes, da repressão truculenta, quando não assassina, das polícias. Consequências da desinformação (em ambos os lados), uma cortina de fumaça que encobre o principal problema social que é o permanente estado de "não-saber".

Foi baseado nesse esquema de inteligência, acrescidas aí experiências próprias que também encabeçam a luta pela liberação da erva para o consumo recreativo, que desde o ano passado o Coletivo Marcha da Maconha de Maceió organizou a primeira marcha deste ano. Foi no domingo, nas orlas de Ponta Verde e Jatiúca, onde eu vi que a linguagem da erva tem poder universal. Torcedores do Centro Sportivo Alagoano (CSA) e do Clube de Regatas Brasil (CRB), rivais mortais, estavam abraçados numa causa sem provocações e, melhor, sem apresentarem riscos a si mesmos ou aos demais participantes torcedores de outros times ou pouco apreciadores do futebol.

Foi lá onde conheci outros jovens, moradores da periferia que esperam ansiosos pelo fim da repressão e a efetiva mudança da realidade em suas casas, onde a discussão acerca do consumo da maconha não seja debaixo de críticas e censuras frutos do conservadorismo que sonda a cabeça da maioria das pessoas de gerações mais distantes.

Mas também vi jovens mães acompanhadas de seus filhos. Para mim, um sinal de que as próximas gerações podem ser menos agressivas e mais pensantes. Um sinal de que ainda dá para se criar no mundo moldando um passo a passo, observando propriedades universais, agregando juízos de valor sem um conceito pré concebido na base do medo do desconhecido.

Afinal o que é e o que não é útil? Vá lá perguntar à vida!

O fato é que a marcha saiu e perfumou o trajeto. Fez tão bonito que nem a Polícia Militar ou mesmo seu Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e sua tentativa de barrar a passeata - alegaram a este repórter que os organizadores não avisaram à Prefeitura, como manda a Constituição Federal em seu 5º artigo - foram capazes de evitar a pacífica, do início ao fim, e avisada Marcha da Maconha de Maceió.

Ocorre-me que esta parece ter sido mais uma tentativa infundada de repressão à minoria; um aparente atentado à Carta Magna que carece de tantas regulamentações...